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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Perigo! Intoxicação alimentar.


       As doenças transmitidas por alimentos são uma gravíssima questão de saúde pública, mesmo levando-se em conta apenas os episódios agudos iniciais. Anualmente nos Estados Unidos há 48 milhões de casos, 128 mil internações e 3 mil óbitos relacionados a elas segundo estimativa feita em 2011 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, na sigla em inglês). (O Brasil não dispõe de estatísticas nesta área).
Na União Europeia, houve 48.964 ocorrências e 46 casos fatais em 2009, o último ano pesquisado. De acordo com dados do Serviço de Pesquisas Econômicas do Ministério da Agricultura americano, as bactérias por si
sós já acarretam um custo de pelo menos US$ 6,7 bilhões, considerando a assistência médica, mortes prematuras e perda de produtividade. Mas os pesquisadores que acompanham os efeitos crônicos dessas enfermidades afirmam que a conta é, na verdade, bem maior.
         As complicações de longo prazo não se limitam aos doentes submetidos à internação hospitalar, aparentemente, com sintomas leves de febre, vômito e diarreia. Entre elas estão artrite reativa, afecções do trato urinário e danos oculares após infecções por salmonela e Shigella; síndrome de Guillain-Barré e colite ulcerativa (um tipo de inflamação intestinal crônica) depois de contaminação por Campylobacter; e insuficiência renal e diabetes como consequência de intoxicações causadas por Escherichia coli O157:H7. Trata-se de organismos muito comuns: a fiscalização federal já os identificou em carne, leite, aves, ovos, frutos do mar, frutas, verduras e legumes e até mesmo alimentos processados.
        À medida que estudam os dados sobre surtos de enfermidades transmitidas por alimentos, os pesquisadores não só confirmam a ocorrência dessas sequelas como também aumentam a lista delas. Um levantamento realizado com 101.855 habitantes da Suécia contaminados entre 1997 e 2004 revelou, por exemplo, uma incidência acima do normal de aneurisma aórtico, colite ulcerativa e artrite reativa. Durante a revisão de um amplo banco de dados de províncias australianas sobre saúde observou-se que a probabilidade de desenvolver colite ulcerativa ou doença de Crohn (uma enfermidade crônica intestinal) é 57% mais alta entre pessoas que tenham contraído infecções gastrointestinais de causa bacteriana que entre outros nascidos no mesmo local e na mesma época. Vários anos após um surto ocorrido em 2005 na Espanha, 65% das 248 vítimas relataram sofrer de dores ou rigidez nas articulações ou nos músculos, em comparação a 24% no grupo de controle, que não havia sido infectado.
Um dos estudos americanos, publicado em 2008, acompanhou vítimas nos estados de Minnesota e Oregon entre 2002 e 2004. Os pesquisadores definiram as pessoas a contatar com base nos registros para um projeto denominado 
Foodborne Diseases Active Surveillance Network (Rede de Vigilância Ativa de Doenças Transmitidas por Alimentos) (FoodNet), que reúne relatos de infecções por dez agentes distintos e confirmadas em exames laboratoriais. Dos 4.468 participantes, 575 (13%) apresentaram sintomas posteriores que correspondiam aos da artrite reativa, ainda que a maioria houvesse tido o diagnóstico de um especialista.

Talvez o vínculo entre as enfermidades em questão e as complicações de longo prazo não passe de coincidência. Ainda assim, trata-se de uma possibilidade remota segundo os defensores da referida ligação, que, na verdade, poderia ser comprovada de maneira mais eficiente se houvesse uma identificação das vítimas já no aparecimento dos primeiros sintomas e um acompanhamento posterior durante anos, no que se denomina estudo prospectivo. Uma das poucas pesquisas desse tipo em todo o mundo (e a única na América do Norte) foi concluída há pouco, com resultados impressionantes e convincentes.



        Em maio de 2000 houve uma contaminação da água potável de Walkerton, na província canadense de Ontário, por E. coli O157:H7 após fortes chuvas que transportaram esterco de fazendas das cercanias para o aquífero local. Mais de 2.300 pessoas, cerca de metade da população da cidade, tiveram febre e diarreia em seguida. Em 2002, o governo provincial financiou um estudo para avaliar quaisquer efeitos de longo prazo entre as vítimas. Os resultados foram publicados em 2010. Em comparação com os habitantes nos quais a infecção foi leve, os que tiveram diarreia por vários dias durante o surto apresentavam uma probabilidade 33% maior de desenvolver hipertensão, além de um risco 210% mais alto de ter infarto agudo do miocárdio ou AVC e 340% mais elevado de sofrer afecções renais nos oito anos pesquisados.

       Mas essas complicações não se limitaram aos indivíduos mais afetados pela enfermidade causada pela bactéria. Houve casos de problemas circulatórios (cuja relação com esse microrganismo não teria sido estabelecida sem o acompanhamento prospectivo) mesmo entre os que relataram apenas sintomas mais leves. Para William F. Clark, coordenador do estudo e professor de nefrologia da University of Western Ontario, essa descoberta indica a possibilidade de serem muito frequentes os efeitos de aparecimento tardio da infecção por E. coli. Assim, o pesquisador recomenda que pessoas que tenham tido essa doença meçam a pressão anualmente e se submetam a um exame das funções renais a cada dois ou três anos.

        Como a questão foi muito pouco investigada a maioria das complicações veio à tona graças à atuação de grupos de defesa de pacientes, cujos relatos formaram a base do levantamento da STOP de que participou Colette Dziadul. Em 2009 foi publicado o guia da entidade sem fins lucrativos Center for Foodborne Illness Research and Prevention [Centro de Pesquisa e Prevenção de Doenças Transmitidas por Alimentos, que desenterrou da literatura médica estudos já esquecidos sobre sequelas permanentes.



Fonte de pesquisa e imagem.
Scientific American Brasil


Um comentário:

João Q. Cavalheiro disse...

A Paz do Senhor estimado amigo e irmão Demétrius!

Passei por aqui para desejar ao irmão e à sua família um Feliz Dia das Mães e um ótimo final de semana, acompanhados de muitas bênçãos de Deus!!
Mas não pude deixar de ver sua excelente postagem que nos fornece úteis informações e que traz à luz resultados de pesquisas de grande valia para a saúde pública. Parabéns!!
Deus vos abençoe sempre.
Abraços do amigo...
João Q. Cavalheiro